terça-feira, 14 de abril de 2009

Gap

Há um espaço onde eu termino e você começa. Há um espaço onde termina a interpretação e começa o objeto. E há um pequeno espaço entre mim e o eu-lírico de Where I End and You Begin.

Onde eu termino e você começa há um espaço, uma lacuna, um buraco. Há uma barreira que me impede de tocá-la e de evitar amá-la. Você está quase ao meu alcance, quase. Eu te vejo, observo teus atos, esmiúço teus detalhes. E quando prendo meus olhos aos teus, estou nas nuvens.

Há tempo para evitar o meu fim e o seu começo? Não houve tempo para Thom. Ele foi deixado pra trás, sozinho, enquanto sua vida desmoronava no mar. Thom perdeu o sentido da temporalidade. Ele vê novamente os minutos caindo num instante como grãos em uma ampulheta. Ele vê os milhões de anos disso tudo passando como um raio. Thom está fora do tempo, sua existência não existe. Ele vive tanto quanto um fóssil, o fóssil viveu, Thom viveu, o fóssil vive, qual a diferença entre Thom e um dinossauro?

Eu sou diferente do dinossauro. Eu estou nas nuvens. As nuvens são tudo, as nuvens são eu e você e tudo o mais, o mundo à nossa volta. As nuvens são a realidade da dor e a fantasia do prazer. Eu não consigo me livrar das nuvens. Eu não quero me livrar das nuvens.

O que há no espaço entre a minha experiência que começa e a de Thom, que termina? Essa coisa que queima e se instala em todas as mentes. Essa coisa que nos come inteiros, vivos. Esse desejo mais profundo individualmente personalizado na figura de uma outra pessoa, da qual não mais conseguimos desviar o olhar, as mãos, a boca, o sexo. Essa ilusão enraizada na mais profunda essência dos animais que copulam, essa ilusão que se apodera de nós e nos faz dizer a verdade quando realmente a sentimos, olho no olho, eu te adoro, eu te amo, eu preciso de você.